CFO Esclarece: a importância do pré-natal odontológico para mães e bebês
Neste 15 de agosto, Dia Nacional da Gestante, o Sistema Conselhos de Odontologia evidencia a relevância do cirurgião-dentista no chamado “intervalo de ouro”, que vai desde o início da gestação até os dois anos da criança.
No Brasil, todas as gestantes atendidas na rede pública de saúde possuem direito ao acompanhamento odontológico. Ele foi garantido por meio do Plano Nacional de Garantia do Pré-Natal Odontológico no Sistema Único de Saúde (SUS), que foi lançado em 2022 pelo Ministério da Saúde e consiste em um conjunto de ações cujo objetivo é permitir que todas as gestantes assistidas no pré-natal tenham o encaminhamento correto ao atendimento odontológico, como etapa de rotina no acompanhamento da gestação.
A conselheira federal do CFO, Sandra Regina Pereira Silvestre, doutora em Odontopediatria e especialista em Ortodontia, esclarece que o pré-natal odontológico tem os objetivos de prevenir e tratar doenças bucais, promover a educação em saúde bucal e orientar as gestantes sobre os cuidados orais adequados para si e para os bebês. Essas ações são voltadas à promoção do bem-estar materno e à garantia do bom desenvolvimento das crianças.
“Da mesma forma que passam pelas consultas médicas, é fundamental que as gestantes também façam o pré-natal odontológico. O cirurgião-dentista fará ações de orientação e prevenção, com foco mais específico no combate às infecções orais e à doença cárie. Ele também desenvolverá um plano de tratamento eventualmente necessário. O objetivo será sempre manter uma boa condição de saúde bucal da mãe para que seja assegurada também a saúde integral do bebê”, complementa.
A cirurgiã-dentista Sandra Echeverria, mestre em Distúrbios do Desenvolvimento pelo Mackenzie e especialista e doutora em Odontopediatria pela APCD e pela USP, explica que o pré-natal odontológico, realizado pelo cirurgião-dentista durante os primeiros mil dias, atua fortemente na prevenção de doenças crônicas não transmissíveis em idade adulta.
“Esse conceito é baseado na teoria DoHaD, a chamada teoria desenvolvimentista da saúde e da doença, que demonstra que a prevenção às doenças crônicas não transmissíveis que vão se desenvolver durante toda a vida do indivíduo, até a idade adulta, começa nesses primeiros mil dias de vida e mais especificamente no período intraútero. Entre essas patologias podemos citar asma, doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão, doença cárie e doença periodontal”, explica a odontopediatra.
Prevenção e cuidados com mães e bebês
O melhor momento para se iniciar o pré-natal odontológico é logo no início da gravidez, sendo ele dividido em duas etapas. A primeira é chamada de autocuidado, voltada aos cuidados com a mãe, que pode ser iniciada já a partir da descoberta da gestação. Nesse período, o cirurgião-dentista vai orientar a gestante sobre uma rotina adequada de higiene bucal no período gestacional e sobre as principais alterações passíveis de ocorrer na cavidade bucal, deixando claro que existem algumas de origem fisiológica e outras não fisiológicas, que requerem atenção para busca de ajuda profissional.
Ainda nessa etapa do autocuidado é realizado o exame odontológico da gestante com obrigatoriedade de rastreamento da doença periodontal. Isso ocorre porque existe uma relação entre as infecções orais e complicações obstétricas, como parto prematuro, bebê com baixo peso no nascimento e principalmente o risco de a gestante desencadear pré-eclâmpsia, um tipo de hipertensão gestacional considerada grave e que pode levar ao óbito da mãe e do bebê.
A segunda etapa do pré-natal odontológico inicia-se na 32ª semana de gestação e o foco passa a ser o bebê, com orientações à mãe em relação aos cuidados bucais após o nascimento. Conforme indicação da Associação Brasileira de Odontopediatria (ABOPED), os primeiros cuidados com a Saúde Bucal do bebê começam ainda no período gestacional. Caso, por algum motivo, não seja possível que a mãe passe pelo pré-natal odontológico, a primeira consulta ao cirurgião-dentista deve acontecer na época da irrupção do primeiro dente de leite, não ultrapassando o primeiro ano de vida.
Tratamento odontológico X gestação
Muitas vezes, as pessoas possuem a ideia equivocada de que mulheres grávidas não podem realizar tratamentos odontológicos ou que só podem ser atendidas no segundo trimestre da gestação. Porém, esse é um mito que vai na contramão das evidências científicas e deve ser combatido. O CFO esclarece que as gestantes podem e devem realizar o tratamento odontológico em qualquer fase gestacional.
“Infelizmente, no Brasil, é comum nos deparamos com a divulgação de conceitos falsos que desestimulam o pré-natal odontológico. Além disso, ainda lidamos com a crença equivocada, por parte das próprias gestantes, de que a cada gestação correm o risco de perder um dente ou que não poderão tomar anestesia ou fazer raio-x. Esse é um problema sério e que só pode ser combatido com orientação”, complementa a cirurgiã-dentista Sandra Echeverria.
É importante evidenciar que o atendimento pode ser realizado a qualquer tempo, sendo ideal que o pré-natal odontológico seja iniciado o quanto antes para prevenção a possíveis estressores ambientais ligados à saúde bucal da gestante. Entre eles estão, por exemplo, infecções na cavidade bucal, quadros de dor, além de dificuldades para dormir ou alimentar-se bem em razão de um problema dentário não tratado.
Outro benefício da realização do tratamento odontológico nas fases iniciais da gestação é o maior conforto da gestante no posicionamento da cadeira na clínica odontológica. Deve-se observar que nas últimas semanas, quando o bebê está muito grande, há risco de compressão dos vasos abdominais quando a paciente está em posição supina (horizontal) na cadeira.
“Há o risco de ocorrer uma síndrome da veia cava, que é quando a veia cava é comprimida e interfere na circulação da gestante, podendo levar a uma síncope. Entretanto, para evitar que isso ocorra, o cirurgião-dentista pode colocar uma almofada do lado esquerdo, inclinando a barriga da gestante para o lado direito, e assim realizar o tratamento normalmente”, afirma Sandra Echeverria.
Além disso, caso haja necessidade de prescrição de medicamentos no pré-natal odontológico, o cirurgião-dentista vai seguir os principais protocolos terapêuticos indicados para garantir a segurança da mãe e do bebê. Deverão ser observadas as premissas da Food and Drug Administration (FDA), que possui um manual de drogas para gestante e para lactação, com a classificação dos fármacos de maneira geral e de todos aqueles utilizados na Odontologia.
Saúde bucal do bebê
Estudos científicos apontam que crianças cujas mães realizaram pré-natal odontológico tiveram um efeito protetivo para a cárie da primeira infância até completarem quatro anos de idade. Ou seja, além de todos os benefícios de prevenção de doenças crônicas não transmissíveis na idade adulta, o acompanhamento pelo cirurgião-dentista também após o nascimento beneficia a criança em relação ao controle da doença cárie.
O profissional vai conscientizar a gestante sobre a importância do aleitamento materno para o desenvolvimento orofacial dos bebês e destacar que a ingestão das fórmulas infantis usadas nas mamadeiras são fatores de risco para cárie. A indicação da Organização Mundial de Saúde é para que a sacarose seja oferecida à criança somente a partir do segundo ano de vida, o que também diminui o risco para cárie. A mãe ainda será orientada a não realizar a introdução de bicos artificiais, que podem ter relação com desmame precoce.
Durante o pré-natal odontológico também serão realizadas instruções sobre os cuidados a serem tomados antes da irrupção do primeiro dente do bebê. O profissional vai explicar que não se deve usar colar de âmbar, artefato que não possui evidência científica e ainda pode colocar em risco a vida da criança pela possibilidade de asfixia. Também não devem ser aplicados anestésicos tópicos nas gengivas dos bebês quando da erupção dentária, pois há risco de superdosagem de medicação e até óbito. Os cirurgiões-dentistas também atuam sobre anomalias bucais e questões como a do frênulo lingual, entre outras.
A importância da Odontologia para mães e bebês
O CFO destaca a importância da Odontologia e do pré-natal odontológico para que as futuras gerações sejam beneficiadas com melhores índices de saúde bucal e redução da cárie. A conselheira federal Sandra Silvestre destaca que a instituição do Plano Nacional de Garantia do Pré-Natal Odontológico no Sistema Único de Saúde (SUS) foi avanço importante nesse sentido, garantido às gestantes o direito ao atendimento odontológico na rede pública de saúde.
“O cirurgião-dentista tem papel fundamental no atendimento gestacional, sendo a Odontologia uma das áreas essenciais para a proteção da saúde de mães e bebês. Por isso, nesse Dia da Gestante, trazemos a mensagem de que toda mulher deve ter acesso às consultas de pré-natal odontológico assim que descobrir a gravidez. Dessa forma, garantimos sorrisos mais saudáveis no presente e no futuro”, finaliza a conselheira do CFO, Sandra Regina Pereira Silvestre.